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Critica: O Regresso

Para ser visto em um museu

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Os cineastas mexicanos vêm ganhando muito espaço no cinema americano, principalmente depois que Alejandro González Iñárritu e seu apego com a estética e a arte alcançaram os prêmios. O Regresso chega aos cinemas cercado pelo ego do seu realizador e pela provável vitória de Leonardo DiCaprio no Oscar, mas é um pouco mais do que isso. Entre trancos e barrancos, é um filme é uma superprodução que pode ser chamada de obra de arte.

Baseado em um livro de Michael Punke, o longa conta a história de Hugh Glass, um guia de caçadores de pele em pleno século 19, que é violentamente atacado por um urso e deixado para morrer por seus companheiros enquanto vê o filho ser assassinado. Para surpresa geral da nação, ele acaba sobrevivendo e inicia uma jornada visceral em busca de vingança contra o culpado pela morte do seu descendente.

A adaptação, realizada por Alejando G. Iñarritu e Mark L. Smith, não se preocupa em fugir dessa sinopse padrão em nenhum instante e resulta em um roteiro simples, prático e por muitas vezes óbvio. Apesar de trabalhar com a linguagem social típica do cinema de Iñarritu e brincar um pouquinho com a transcendência do cinema de Terrence Malick, pode ser interessante já ter em mente que, no fundo, você não vai encontrar mais do que uma história de vingança padronizada e comum.

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Claro que isso não é um grande problema aqui, porque o desenvolvimento funciona e a própria transposição é muito bem executada. No entanto, o roteiro tem alguns pequenos problemas que podem incomodar uma certa parcela do público, considerando que alguns personagens tem um desenvolvimento bem raso, que umas duas ou três cenas que não adicionam nada dentro da história poderiam ser cortadas para dar uma polida no filme e que a parte “mística” não é bem trabalhada no decorrer da trama.

Entretanto, todos esses problemas são quase que completamente compensados com um trabalho de direção que não pode receber outra denominação se não espetacular. O jogo de câmeras é poderoso, a tensão é bem construída, a violência é apresentada de forma visceral e alguns planos sequências extremamente complexos tomam boa parte do filme sem se tornarem repetitivos, como acontece em Birdman. O resultado é uma direção que, ao lado de ótimos usos da maquiagem, dos efeitos especiais e da trilha sonora, consegue chocar algumas pessoas, dar um certo tom épico para a jornada de Glass e colocar o espectador lado a lado com ele durante esses momentos.

Mesmo assim, é impossível não deixar que todo o destaque dessa parte técnica fique com a direção de fotografia de Emmanuel Lubezki, que é simplesmente uma obra de arte à parte. Em meio à tantas extravagâncias que não mudam tanta coisa, como criar de verdade uma avalanche, ele fez algo considerado praticamente impossível ao realizar toda a filmagem com luz natural, alcançando alguns enquadramentos e momentos que poderiam virar pinturas guardadas para a eternidade.

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Enquanto isso vai enchendo a tela com cenas mais do que perfeitas, o elenco também se destaca e faz por merecer as indicações ao Oscar desse ano. Apesar de não ser a sua melhor atuação, Leonardo DiCaprio carrega uma boa parte do filme nas costas e surpreende ao conseguir passar o sofrimento gigantesco do seu personagem com pouquíssimas palavras e movimentos, fazendo com que ele seja merecedor de ganhar o prêmio dessa vez.

Da mesma forma, o elenco coadjuvante marca sua presença com firmeza na selvageria de Tom Hardy, no arrependimento pouco desenvolvido de Domhnall Gleeson e no remorso total de Will Poulter, que tem aqui o melhor papel da sua carreira. No entanto, o papel mais complexo é realmente o de Hardy, sendo que só a luta final contra o protagonista já valeria a sua indicação ao Oscar.

No final das contas, O Regresso não se apresenta como aquele filme perfeito que precisaria ser assistido em um templo, mas consegue compensar seus problemas textuais com um visual espetacular, uma edição interessante e atuações magistrais. É um filme difícil de ser realizado e extremamente violento que provavelmente não vai agradar todos, mas merece ser visto, reconhecido e, quem sabe, assistido em um museu. Porque obras de arte ficam em museus e não em templos.

OBS 1: O que é aquela cena do urso? Sensacional!

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Crítica: Caçadores de Emoção – Além do Limite

Bonito, mas desnecessário

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Hollywood está em uma fase de remakes, muitos deles extremamente bem-sucedidos nas críticas e nas bilheterias, como Jurassic World e Mad Max. Um filme dos anos 90 com um roteiro radical ao extremo seria mais um sucesso óbvio, certo? Errado.

Utilizando como base o filme de Kathryn Bigelow lançado em 1991, em “Caçadores de Emoção – Além do Limite” o agente do FBI Johnny Utah (Luke Bracey) tenta solucionar uma série de crimes que envolveram esportes radicais. O envolvimento pessoal que se estabelece entre Utah e o líder do grupo investigado, Bodhi (Edgar Ramírez), passa a ser a principal trama do longa. Utah encara o clássico conflito de escolha de lados em uma batalha.

O filme de fato teria potencial para ser algo maior, mas infelizmente o ponto positivo se resume à qualidade visual do mesmo. Com a ajuda de CGI ou não, o que vemos é um espetáculo do nosso planeta, imagens que mostram que não é preciso mostrar galáxias distantes ou mundos imaginários para obter resultados deslumbrantes. Mas é só isso.

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O roteiro é fraco, o que piora com a direção de qualidade insuficiente para o projeto. Praticamente todas as cenas com maior carga emocional são neutralizadas com cenas seguintes quase que destoantes. Os protagonistas são atores no mínimo medianos, mas Utah não convence; não consegue transmitir todo o conflito que seu personagem enfrenta. Edgar Ramírez trabalha melhor com seu personagem, fazendo com que ele seja um apaixonado pelo radical no limite da insanidade, mas somente no limite mesmo.

A proposta de filme radical é falha e é possível perceber que certas partes se arrastam demais, o que o torna cansativo apesar da ação. O filme funciona melhor como um documentário sobre a natureza, principalmente com a filosofia existente no mesmo. Certamente precisamos pensar no que estamos fazendo com nosso planeta, e o que estamos deixando para as próximas gerações, mas esse apelo seria muito mais efetivo com um filme que fosse mais que apenas imagens bonitas.

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Crítica: The Lobster

A inocência em meio a decadência

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Critica: Carol

Um olhar que grita por liberdade

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Crítica: Trumbo – A Lista Negra

O cinema e a política de mãos dadas. Ou nem tanto.

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Trumbo começa com uma batida de jazz e uma conversa sobre cinema logo após uma sessão. Assim acreditamos que o filme será inteiramente sobre o assunto, quando de repente a conversa muda de tom, somos apresentados a lados opostos da política americana da época, que é explicada de forma simples em uma cena entre pai e filha.

James Dalton Trumbo (Bryan Cranston) é um roteirista de Hollywood que, com seu ideal comunista, se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Anti Americanas. Além dele, outros amigos da indústria assim fizeram, acabaram entrando numa Lista Negra e se tornando os 10 de Hollywood.

Assim o primeiro ato é inteiramente político mas recheado de bons diálogos, (algumas frases de Dalton Trumbo ficarão na memória), com o personagem mostrando e defendendo seu lado. Bryan Cranston entrega uma atuação excelente, explosiva e contida, além de usar o roteiro a seu favor, o ator trabalha o gestual, trejeitos, o que torna sua indicação ao Oscar obrigação.

O segundo ato mais arrastado, mas não menos interessante, é dedicado ao cinema, o roteiro de John McNamara (que deveria estar no Oscar) é preciso e recheado de pequenos monólogos para apresentar mais do trabalho de Trumbo como roteirista. Um prato cheio para os amantes de cinema, além de focar na família e amigos do artista.

Nesse momento o restante do elenco aparece com ótimas atuações, com destaques para Louis C.K, que entrega uma excelente atuação fazendo Allen Hird, melhor amigo e maior opositor das frases e atitudes de Trumbo e Michael Stuhlbarg, que faz Edward Robinson, um ator amigo de Trumbo quando convém (ambos podiam ser indicados a melhor ator coadjuvante). Além deles, Hellen Mirren como Hedda Ropper é a melhor imagem de vilã que o filme tem e está excelente (outra indicação a coadjuvante), Diane Lane como Cleo Trumbo, Elle Fanning na fase adulta e Madison Wolfe na infância como Nikki Trumbo, John Goodman como Frank King (que entrega uma cena impagável) entregam atuações competentes.
No terceiro ato, cinema e política se misturam, sem causar confusão. Vemos o melhor do cinema, quando o diretor Jay Roach em uma direção dinâmica, intercala diálogos sobre sobre o assunto com cenas de filmes escritos por Trumbo e premiações. Mas vemos o pior da política (não estou surpreso), que tenta de todas as formas calar a arte e o artista. Trumbo – A Lista Negra acaba, na verdade, se tornando um filme pra quem ama cinema e porque não um pouco de política.
Ps 1: Ressalto o trabalho de maquiagem incrível, o filme começa em 1947 e acaba em 1970 com os atores envelhecendo de fato.
Ps 2: Fique até metade dos créditos, há uma cena incrível do próprio Dalton Trumbo.
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Crítica: Joy – O Nome do Sucesso

Uma história de redenção que não consegue encantar

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Critica: Reza a Lenda

Um pequeno respiro para o cinema brasileiro

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